O português é um dos idiomas mais complexos e, por isso mesmo,
complicados. As muitas regras — e, ao longo do tempo, mudanças delas —
nos fazem ter dúvidas na hora de escrever, falar ou completar frases
aparentemente simples. O brasileiro tem também muitos vícios de
linguagem e expressões regionais que confundem ainda mais e geram
dúvidas. Para ajudar a desfazer um pouco a bagunça nas nossas cabeças,
escolhemos algumas palavras que costumam causar muita confusão.
1 - Uma pizza de "mussarela", por favor
Encontrou algo estranho na frase acima?
Não? Acontece que "mussarela" não se escreve assim. Uma das grandes
dúvidas da língua portuguesa é como escrever o nome do popular queijo.
Apesar do uso comum utilizar os dois 's', a norma culta utiliza o 'ç'.
Mesmo aparecendo em alguns dicionários, a primeira forma não está no
vocabulário ortográfico da Academia Brasileira de Letras. Nele, as
formas corretas para a palavra são duas: "muçarela" e "mozarela". Sua
pizza nunca mais será a mesma!
2 - Temos que ficar alerta, ou alertas?
A palavra "alerta" gera bastante confusão
quando colocada no plural. A razão é que, assim como muitas palavras no
vocabulário português, ela abrange dois sentidos: pode ser um advérbio
(ex.: permanecemos alerta) ou um substantivo (ex.: os alertas estão
ligados). Ao observar os exemplos dados, repare que, quando advérbio, a
palavra não muda sua forma, portanto não vai para o plural. Por isso, o
correto é "Temos que ficar alerta".
3 - Vimos bastantes pessoas conhecidas no museu
É comum que as pessoas utilizem apenas a
forma invariável da palavra "bastante" por achar que o termo nunca se
flexiona. Essa é mais uma palavra que tem sentidos diferentes: pode ser
advérbio ou adjetivo. Advérbios nunca se flexionam, mas adjetivos, sim.
Para fazer o tira-teima, substitua a palavra por "muitos/muitas". Se a
frase seguir correta, então "bastante" tem função de adjetivo e deve ser
flexionado no plural (bastantes). Ex.: Eles comem bastante/muito —
advérbio. Exemplo: Vimos bastantes/muitas pessoas conhecidas no museu —
adjetivo.
4 - 60% das pessoas fazem algo que outros 30% não fazem
Ao escrever um texto ou frase que contenha
porcentagem, muitas vezes não paramos para pensar e avaliar como usar
corretamente a palavra que a segue. É importante destacar que "por
cento" é do gênero masculino e todo artigo ou adjetivo que estiver
relacionado a ele deve vir flexionado de acordo. Muitas vezes, o que
acontece é que relacionamos a palavra anterior ao complemento. Por
exemplo, numa frase como a do título, "60% das pessoas fazem algo que
outros 30% não fazem", o correto é outros. Acontece que são 30 por cento
das pessoas, e não 30 pessoas — na primeira oração, o núcleo da
expressão é a porcentagem; na segunda, é "pessoas".
5 - Trata-se ou Tratam-se de assuntos interessantes?
Na frase acima temos um sujeito
indeterminado. A partícula "se" funciona como uma terceira pessoa
oculta. Existe uma dificuldade em saber quando colocar o verbo variando
de acordo com seu predicado — já que o sujeito não aparece — e quando
não colocar. Neste caso, a frase correta começa com "Trata-se". A
questão é simples: existe um sujeito e o verbo concorda com ele. Uma
dica é prestar atenção na preposição: toda vez que aparecer alguma, há
um complemento, e o verbo não concordará com ele. Outro exemplo:
Precisa-se de faxineiras — preposição "de".
6 - Vende-se ou Vendem-se sapatos?
Toda vez que um verbo estiver na voz
passiva, ou seja, que a ação seja praticada pelo predicado (chamado de
agente da passiva), deve concordar com ele. Portanto, no título, a forma
correta seria: "Vendem-se sapatos". Para ajudar, coloque o verbo "ser" e
veja se ele vai para o plural: sapatos são vendidos.
Outros exemplo: "Dão-se aulas de violão"; "Aulas de violão são dadas".
Atenção: nenhum verbo transitivo indireto (que precisa de preposição)
pode ir para o particípio. Exemplo: "Precisa-se de faxineiras" —
"precisar" é transitivo indireto e, portanto, não se pode dizer
"Faxineiras são precisadas".
7 - Podem utilizar o bebedouro à vontade
A palavra "bebedouro" é a correta, não
"bebedor", como dito por algumas pessoas. O sufixo "dor" se relaciona a
quem faz a ação, portanto bebedor é quem bebe, e bebedouro é onde se
bebe. É muito comum haver essa troca de sufixos no uso popular. Outros
casos semelhantes podem ser citados, como: "babadouro", em vez de
babador; "matadouro", em vez de matador; "escorregadouro", em vez de
escorregador. Sabia dessas?
8 - Tinha falo ou falado? Tinha pego ou pegado?
Você talvez já tenha ouvido "tinha falo",
ao invés de "tinha falado", mas essa forma está errada. Muita gente
acredita que ela está correto porque outros verbos semelhantes adotam
forma parecida. Nesse caso, a forma verbal "falo" só se refere à
primeira do singular do presente do indicativo: "eu falo". No outro
caso, "tinha pego" é dado muitas vezes como a expressão correta, mas as
duas formas são admitidas na norma culta: "tinha pego" ou "tinha
pegado".
9 - Entregue ou Entregado
O verbo "entregar" é mais um que admite
duas formas no particípio - entregue e entregado. O problema aqui é:
quando usar cada um? A dica é simples: com os verbos "ter" e "haver"
usa-se "entregado". Já com os verbos "ser" e "estar", "entregue". Seguem
alguns exemplos: "Gustavo não havia entregado os presentes"; "A menina
já tinha entregado o bilhete"; "Novos cartões são entregues todas as
manhãs"; "A encomenda está entregue".
10 - A presidente disse que é na saúde onde estão os melhores médicos
O título apresenta um erro que, muitas
vezes, passa despercebido para nós. O pronome relativo "onde" só deve
ser utilizado quando se refere a lugares físicos, locais, ou alguma
referência de lugar. Por exemplo: A escola onde eu estudei foi
reformada. Nesse caso, "onde" se refere a escola, que é um lugar físico.
Em situações como a do título, os pronomes relativos que podem ser
utilizados são: no qual, na qual, nos quais, nas quais, em que.
11 - Ela está querendo se aparecer
A frase do título está incorreta, mas é
outro erro comum entre os brasileiros. Acontece que o verbo "aparecer" é
intransitivo, ou seja, não admite nenhum tipo de complemento. Além
disso, ele está dentro da lista dos verbos que jamais podem ser usados
com pronomes ("se"). Não podemos aparecer ninguém, nem aparecer a nós
mesmo, certo? Portanto a forma correta dessa frase seria: "Ela está
querendo aparecer".
12 - Dever ou Deveres
Muitas pessoas não sabem que os
significados dessas duas palavras são diferente. Mas não tem problema, a
gente explica: "dever" significa obrigação; "deveres" (sempre no
plural) são tarefas. Quando alguém diz: "não fiz o dever de matemática"
está usando a palavra errada. O correto seria: "Não fiz os deveres
(tarefas) de matemática". Para entender melhor pense: "dever"
(obrigação) se cumpre; "deveres" (tarefas) se fazem. Por exemplo: "O
dever de cada estudante é fazer seus deveres escolares"
13 - Pastelzinhos ou pasteizinhos?
Na hora de colocar o diminutivo -zinho no
plural começa a confusão. Mas é muito simples resolver o problema: é só
lembrar que a palavra, antes de ir para o diminutivo, deve ir para o
plural, e o último "s" deve ser excluído. Vamos fazer passo a passo?
Primeiro, coloque no plural: "pastel" vira "pastéis". Depois, remova o
"s": pastei. E, enfim, acrescente o -zinhos: "pasteizinhos". Outros
exemplos: pãezinhos, limõezinhos, caracoizinhos, aneizinhos.
14 - É/são meio-dia e meio/meia?
O título acima contém uma pegadinha que
aparece em muitas provas de vestibular e concursos. Acontece que, quando
vamos informar as horas, costumamos dizer: são x horas e x minutos. Mas
tanto para o "meio-dia" quanto para "uma hora", devemos dizer: é meio
dia/é uma hora da tarde; pois o verbo deve concordar em número (plural
ou singular) com as horas. Um outro equívoco comum é dizer: meio-dia e
meio. O correto seria "meia" porque estamos nos referindo à metade de
uma "hora", que é um substantivo feminino
15 - A situação está russa ou ruça?
O caso acima é mais um onde falar não é o
problema, e sim escrever. Apesar de parecer errada, a palavra "ruça"
existe e tem um significado diferente de "russa". Quando essa segunda
palavra aparece, ela nos remete a algo ou alguém originário da Rússia.
"Ruça" é o correto para quando queremos dizer que a situação está feia.
Já "ruça" seria uma cor pardacenta, escura; e também se refere a algo
que está ficando velho.
16 - O encontro agradou a todos
O verbo agradar tem dois significados:
fazer carinho, mimar ou corresponder à expectativa, satisfazer. Como
diferenciar os dois? É simples: quando o verbo tiver o sentido de fazer
carinho, ele será transitivo direto, ou seja, não precisará de
preposição. Quando estiver no sentido de satisfazer, será transitivo
indireto, ou seja, pedirá preposição. No título, o sentido é de
satisfazer. Por isso, está empregada a preposição "a". No sentido de
mimar, temos o exemplo a seguir: "A mãe agrada o filho recém-nascido".
Lembre-se: quem satisfaz alguém, agrada [a essa pessoa]; e quem faz
carinho em alguém, agrada [essa pessoa].
17 - Não existe fastasmas, ou existem?
Muitas pessoas confundem o verbo "existir"
com o verbo "haver", que não se flexiona quando tem o sentido de
"existir". Entretanto, o mesmo não vale para o verbo "existir". Ele é um
verbo regular e sempre terá que concordar com o sujeito, mesmo quando
não aparecer antes do verbo. Quando tiver dúvida, primeiro identifique o
sujeito e reorganize a frase: "Fantasmas não existem". Portanto, o
correto é: "Não existem fantasmas ". No caso do verbo "haver", ele não
varia, pois não há sujeito na frase: "Não há fantasmas por aqui".
18 - Quero trezentas(os) gramas de presunto, por favor.
Quando nos referimos a quilo, é importante
perceber que a palavra "grama" é um submúltiplo de "quilograma". Muitas
vezes nos confundimos ao empregar a palavra. Acontece que o termo
"grama", quando é usado como peso é um substantivo feminino. Portanto, o
correto é: "Quero trezentos gramas de presunto, por favor". É
importante lembrar que o mesmo vocábulo também pode se referir à espécie
vegetal muito usada em jardins. Nesse sentido, ele é um substantivo
feminino: "Por favor, não pise na grama".
19 - Aonde ou onde
As palavras "aonde" e "onde" geram muita
confusão. Mas a pegadinha pode ser resolvida com uma dica simples. Como a
palavra "aonde" é a junção da preposição "a" com o advérbio "onde", e
indica direção e movimento. Sempre que tiver dúvida entre usar "onde" e
"aonde", empregue a expressão "a que lugar" e veja se a frase segue
gramaticalmente correta. Se não estiver, você deve usar "onde". Exemplo:
"Aonde (A que lugar) ele pretende chegar?". Já a palavra "onde"
aparecerá em frases que indiquem um lugar fixo. Exemplo: "Trabalho onde
poucos gostariam de trabalhar".
20 - Eu negocio ou negoceio? Ela se maquia ou maqueia?
As dúvidas acima são muito comuns. Na hora de falar, muitas vezes sai de qualquer jeito, mas na hora de escrever o bicho pega. Nos dois casos, a primeira forma é a correta. A explicação é a seguinte: verbos que terminam em "iar" são classificados pela norma como regulares, portanto a forma até o 'i' permanece. Outros exemplos: premio, crio, aprecio, arrepio, guio, etc. — sempre na primeira pessoa do singular do presente do indicativo. Há cinco exceções a essa regra: Mediar, Ansiar, Remediar, Incendiar e Odiar (lembradas pela sigla MARIO). Quando conjugados, ficam: medeio, anseio, remedeio, incendeio e odeio.